Numa estratégia inbound, até se ter uma certa prática e uma clareza muito grande de cada etapa, estamos sempre produzindo no limite da compreensão, o que pode ocasionar uma série de dúvidas do gênero: estou mesmo seguindo uma linha editorial adequada para a fase em que minha persona se encontra na jornada? Conseguirei produzir um conteúdo fundo de funil convincente? (Mas você, certamente, irá superá-las. Continue comigo).
Com certeza, você já deve ter ouvido falar sobre algo que possui “uma linha tênue entre um ponto e outro”. Como o próprio nome diz, as linhas tênues são delicadas, frágeis, não se sabe ao certo até que ponto se pode forçá-las. E, por mais poético que seja, trabalhar com linhas tênues não é nada fácil. Onde queremos chegar? No inbound marketing e no conteúdo fundo de funil.
Se, alguma vez, você produziu algum artigo (ou redação escolar) sabe que há sempre um desafio. Para superá-los, geralmente contamos com o auxílio de técnicas, métodos, estratégias ou boa sorte (mas nem sempre dá para confiar nela). No inbound marketing, não é diferente, as etapas da jornada de conteúdo (aliadas às personas e linhas de conteúdo) dão um grande suporte para a produção em si. Embora dentro da própria jornada nasçam novos desafios. No fim, são características bem particulares e que precisam ser vencidas.
Antes de continuarmos e entrarmos definitivamente no território do inbound marketing, peço atenção para um aviso: nenhuma dúvida, por mais que parece básica, deve ser descartada. É preciso que tudo seja bem resolvido para que a estratégia funcione de fato. Considerando que já se esteja habituado com os processos iniciais do inbound marketing e com as etapas da jornada de conteúdo, é preciso dar um passo adiante e avaliar a construção de cada artigo.
Se pensarmos, por exemplo, numa produção para o estágio de “Aprendizado e Descoberta”, é essencial que o redator atormente-se diariamente com a pergunta: “estou sendo exageradamente abrangente?”. E, ainda, que coloque em sua mesa um post-it com a seguinte lei universal da produção topo de funil: “aprendizado e descoberta não é conteúdo superficial”. E, estamos falando apenas da primeira parte de todo o processo.
Na sequência, há mais conteúdos com outros propósitos dentro de uma mesma linha: aprendizado e descoberta, reconhecimento do problema, consideração da solução e decisão de compra, pensando na metodologia da Resultados Digitais. Ou, pensando na Hubspot, consciência (awareness), consideração (consideration) e decisão (decision). O importante é saber que estamos falando de topo, meio e fundo de funil. Enfim, por mais tentador que seja, não reduza a importância da diferenciação das etapas como se houvesse apenas uma “sequência do argumento” na produção dos conteúdos para cada estágio. Certamente, o assunto irá evoluir e se desdobrar, porém, o importante que isso seja feito de uma forma específica, orientado para o objetivo do cliente.
Em relação à produção de conteúdo, estamos falando em dar uma continuidade “comercial” à uma necessidade. Porém, sem o devido cuidado, você pode acabar com um panfleto de varejo em mãos. Aqui, estamos diante da nossa primeira linha tênue: quão comercial posso ser? Existe alguma técnica para ser “naturalmente comercial”? Sim, existe.
Para não deixar você respirar, aqui vai mais um questionamento fundamental: “como não me tornar um manual técnico”? A questão é: não existe (ou não deveria existir) um caminho estritamente técnico ou exclusivamente vendedor. O fundo de funil é o desdobramento de uma determinada linha de uma jornada de uma persona. O objetivo é vender, mas vender para quem tem uma determinada dor dentro de um contexto. Ou seja, a produção de conteúdo fundo de funil é a solução de um problema.
Agora que fomos apresentados para algumas das linhas tênues, é hora de voltar para o começo. Aqui, iremos explorar basicamente as dicas práticas para a redação dos conteúdos fundo de funil, considerando que houve anteriormente um processo de planejamento editorial, desenvolvimento de persona e definição de linha de conteúdo. Também iremos supor que existiu a integração com o comercial, para apuração de dores, construção de argumento, identificação de oportunidades e processo de vendas. Não se trata do conteúdo em si, mas de como o redator irá concebê-lo.
Se o marketing digital apresenta uma variedade de opções, a publicidade não foge à regra. Há tipos e tipos de formatos, redação e arte. No entanto, é possível ir no cerne de determinados anúncios publicitários e descobrir uma série de lições que podem ser transpostas para o inbound marketing. No texto publicitário há um objetivo que pode ser bastante interessante aos artigos fundo de funil, o convencimento. Não apenas uma proposta de convencimento, mas um argumento composto em cima de uma base. Se na publicidade há a construção em cima de uma “verdade”. No inbound marketing, temos o desenvolvimento da “verdade” desde o próprio conhecimento dela pelo consumidor.
Entrando no âmbito da conceituação, para seguirmos por meio de uma base teórica, em “A evolução do texto publicitário”, João Carrascoza traz a diferenciação entre convencer e persuadir. Dessa vez, posicionando o discurso publicitário como discurso persuasivo, pois “persuadir” estaria no campo do “impacto na vontade e no sentimento por meio de argumentos plausíveis ou verossímeis”, enquanto o “convencer” trabalha com raciocínio lógico e provas objetivas. Sendo assim, o discurso publicitário pretende informar, mas também persuadir.
O inbound marketing, por sua vez, traça uma lógica na apresentação de um conceito, o despertar ou conscientização de uma dor ou necessidade, a oferta de opções e o artigo comercial, chamado de decisão de compra. É, nesta última etapa, que iremos informar e convencer, seguindo a lógica, mas também persuadir. Ou seja, despertar no consumidor uma ação a partir de uma série de argumentos verdadeiros. Sim, podemos aprender bastante com a publicidade.
Carrascoza toma emprestada as definições de retórica de Aristóteles para aplicar na publicidade. Dando sequência, usaremos as mesmas etapas, mas para a produção de conteúdo fundo de funil do inbound marketing. Aristóteles, diferenciou a retórica em três tipos: deliberativo, judiciário e demonstrativo. O deliberativo aborda o futuro ou ações futuras, o judiciário se atém ao passado e o demonstrativo ao presente. Assim como a publicidade, o inbound marketing, em específico a etapa de “decisão de compra”, enquadra-se frequentemente no gênero deliberativo.
Ainda seguindo as definições de Aristóteles, existem quatro etapas necessárias para a elaboração de um discurso coerente num modelo apolíneo (de Apolo, deus da profecia), fundamentado no discurso racional e nos argumentos: exórdio, narração, provas e peroração. Confira como podemos aplicar cada etapa:
Apesar de ser considerada uma estrutura da retórica clássica, as quatro fases são amplamente utilizadas na construção publicitária e podem ser adaptadas ao discurso fundo de funil. Compare:
Seguindo a estrutura, fica mais fácil prever como ficará o artigo e estruturar previamente a argumentação lógica. É importante lembrar que a introdução irá desencadear, de forma lógica, a argumentação. Da mesma forma, a argumentação apresentará tópicos que serão comprovados por provas. No final, o leitor terá uma recapitulação e será chamado para uma ação relacionada ao produto ou serviço.
Outro conceito que podemos pegar emprestado da publicidade na produção de conteúdo fundo de funil é o de proposta única de vendas ou promessa básica. É um conceito que, inclusive, consegue auxiliar as empresas no potencial de um novo negócio. Se há alguma razão, de fato, para o comprador adquirir o novo produto ou serviço. Para isso, é preciso responder, qual é a realmente a essência do negócio e no que isso se diferencia das outras propostas do mercado.
Na reportagem do Business News Daily sobre Unique Selling Proposition há uma série de perguntas que devem ser respondidas para a construção da proposta:
São as mesmas questões que devem transparecer numa produção decisória. A proposta de venda única (ou PVU) é justamente a motivação da compra. É claro, que trata-se de algo verdadeiro e não somente abstrato, mas que condiz com a realidade e entrega o que promete. É preciso ser objetivo no que está sendo oferecido e realmente servir de ferramenta para a decisão de compra. Parece similar ao que buscamos no fundo de funil e realmente é. Por isso, utilizar dos métodos de concepção da PVU e estabelecer uma produção em cima dele são saídas com grande potencial de sucesso.
Para quem quer aprender sobre publicidade, relacionamento com clientes e comunicação de forma geral, recomendo fortemente a leitura do livro Confissões de um publicitário, de David Ogilvy, fundador da Ogilvy & Mather. de ser uma publicação que resgata memórias de um mercado que mudou o contexto e os valores algumas inúmeras vezes, as lições continuam mais atuais do que nunca. E o melhor é que podemos adaptar facilmente o conhecimento do publicitário para a estratégia e produção no inbound marketing, principalmente nas etapas mais comerciais.
Num dos capítulos em que Ogilvy fala sobre a construção de boas campanhas, podemos colocar as suas sugestões facilmente num contexto de inbound marketing. Em primeiro lugar, não é por termos um método ou princípios que criaremos algo entediante. O que seria imperdoável dentro do fundo de funil. No mais, não adianta uma estratégia, um artigo ou um e-mail inigualável, é preciso que o lead termine de consumir o que produzimos e tenha apenas uma coisa em mente: o serviço ou produto que acabamos de oferecer.
São também conselhos do publicitário:
O que realmente faz diferença num anúncio? Ou o que transforma uma produção em um verdadeiro gatilho de vendas? No primeiro caso, Ogilvy traz algumas considerações interessantes e que iremos adaptar para responder a segunda pergunta. Para o publicitário, é no título que temos as principais chances de ganhar o cliente. E a mudança de um título pode provocar um impacto significativo no impacto do conteúdo.
Em relação aos títulos, há certas dicas para torná-los mais poderosos:
O seu artigo responde a uma pergunta? Essa é a primeira lição ensinada por Ogilvy: finja que está numa conversa respondendo a pergunta de alguém. É claro que a pergunta será sobre o produto ou serviço: devo ou não adquirir? O que você sugere?
Com isso, temos outras técnicas para a produção do artigo:
No mais, fica a sugestão de leitura sobre “Sou muito técnico e ninguém me entende: como o inbound pode ajudar a sua empresa de tecnologia” e “Conteúdos criativos ou como empresas de TI podem ser divertidas”. Ficou com alguma dúvida ou tem alguma sugestão sobre a produção fundo de funil? Compartilhe conosco nos comentários. Até a próxima!
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Autora original: Janine Costa