É muito provável que você já tenha pesquisado o que é blockchain. Essa palavra é repetida cada vez mais em textos, vídeos e conversas sobre tecnologia, especialmente após a explosão do preço dos Bitcoins em 2017. Apesar de ser um assunto recorrente, muitas das características básicas, funções e aplicações do blockchain ainda não estão claras para todos. Ele pode ir muito além das criptomoedas e já está transformando vários setores do mercado, inclusive a comunicação e o marketing digital.
Especialistas comentam que o blockchain é a maior inovação criada desde a internet. Por isso, para compreendê-lo, vamos lembrar algumas características básicas da rede.
A internet mudou a forma como vivemos e nos comunicamos. Uma comunidade mundial integrada em forma de rede, acessível para todos e sem um governo central parecia utópica há algumas décadas. Hoje, todos podem usá-la e, a princípio, todos são confiáveis.
A facilidade de comunicação com pessoas de todo o mundo abriu inúmeras possibilidades de troca de conhecimento e compartilhamento de informações. Mas, principalmente, a internet tornou-se um negócio exponencialmente rentável, quase uma economia independente.
Com tanta gente envolvida, e ninguém responsável por organizar essa bagunça, como saber se quem está do outro da tela é de fato confiável? E como garantir segurança financeira para as milhares de transações financeiras online realizadas todos os dias sem perder a característica principal da rede: a descentralidade?
Buscando resolver essas questões, em 2008, alguém apresentado como Satoshi Nakamoto divulgou para o mundo um documento chamado Bitcoin: um sistema financeiro peer-to-peer. Nele, explica-se os detalhes de um software open source que serviu de base para a criação da primeira moeda virtual: o Bitcoin. Essa tecnologia, baseada em um modelo de registro de informações descentralizado e, ao mesmo tempo, acessível a todos, permite a realização de transações rápidas, baratas e confiáveis entre os usuários da rede. Ela recebeu o nome de Blockchain.
Simplificando, essa tecnologia é uma forma totalmente digital, ultra segura e descentralizada de armazenar informações importantes. Criando milhares de cópias seguras e acessíveis de um mesmo arquivo, eliminam-se as possibilidades de fraude. Afinal, é fácil alterar um documento, mas é muito difícil adulterar milhares de cópias espalhadas por servidores em todo o mundo. Para exemplificar, vamos pensar em uma ferramenta muito usada pelos profissionais do marketing no dia a dia: o Google Docs.
Imagine que você e sua equipe precisam registrar um acordo importante, mas desejam fazer isso sem precisar do apoio de mais ninguém. Uma das pessoas cria um arquivo na ferramenta do Google, e os outros participantes acessam o documento, cada um do seu computador. Lá, as pessoas escrevem suas partes do acordo. Todas as mudanças são atualizadas e verificadas pelo Google na mesma hora. Se alguém resolver alterar o conteúdo, todos irão saber.
O blockchain funciona de maneira muito parecida. Ao invés de um documento compartilhado, há um registro protegido por computação de alta complexidade de todas as transações realizadas. Quando alguém deseja validar uma informação, simplesmente a registra no blockchain. Cópias desse registro são distribuídas por servidores espalhados pelo mundo. Cada ação realizada é agrupada em um bloco de dados, que se conecta com todas as outras que já foram concluídas, como uma corrente.
Dessa forma, para adulterar um bloco de dados, seria necessário fazer o mesmo em todos. Quanto maior a corrente de transações, mais difícil fica adultera-lá, e portanto, maior será a segurança dos dados que estão ali contidos.
Para validar cada transação, é necessária a resolução de um problema matemático complexo, que só supercomputadores são capazes de concluir. No caso do Bitcoin, o primeiro servidor que conseguir resolver o problema é recompensado com uma unidade da criptomoeda. Esses “resolvedores de problemas” ganharam o nome de mineradores de Bitcoin. Por isso, ao contrário das moedas que utilizamos tradicionalmente, controladas por uma entidade central (os governos), o Bitcoin não é regulado por ninguém.
Com essa lógica, é possível verificar qualquer tipo de informação sem uma autoridade central; quem faz a verificação são diversas partes espalhadas pelo mundo.
Agora sabemos que o blockchain é a tecnologia por trás do Bitcoin. Mas seu uso não se restringe a ele. Desde sua criação, o valor da criptomoeda cresceu exponencialmente. Apenas em 2017, seu valor cresceu mais de 1700%. O mercado descobriu o Bitcoin, que passou a entrar no jogo de especulação financeira. Outras moedas digitais surgiram, como o Ethereum, Ripple e Litecoin, e outras devem surgir no futuro.
No momento, é importante compreender que o blockchain poderá ser aplicado em diversas áreas. Por ser uma ferramenta de verificação independente que não depende de nenhuma entidade, ele possibilita interações nunca antes realizadas. Basicamente, tudo o que precisa ser verificado por um intermediário para ter validade pode ser revolucionado com o blockchain.
Contratos inteligentes (smart contracts), por exemplo, são programas que podem automaticamente validar os termos de um contrato através do blockchain. Digamos que duas pessoas precisem de um contrato de pagamento por um carro no valor de R$ 40 mil. Ao receber o carro, o comprador informa ao contrato, através de um aplicativo, que está tudo ok. O próprio contrato então transfere, via blockchain, o valor do pagamento. Tudo estaria centralizado apenas no contrato digital, sem depender de bancos, cartórios ou testemunhas.
Seus documentos pessoais também poderão mudar. O blockchain pode manter a identidade de todos online, e conectá-la com as ações realizadas na rede por cada um. Assim, fica muito mais difícil falsificar identidades. O governo brasileiro foi o primeiro na américa latina a desenvolver um testes de verificação de documentos através do blockchain. O projeto, realizado em parceria com a Microsoft, foi bem sucedido.
Ao explicar o blockchain, estamos falando de transferência de informações, internet e inovações disruptivas. Com certeza, todas essas palavras se referem também ao universo do marketing digital e afetarão este mercado mais cedo ou mais tarde.
Segundo um artigo recente da Hubspot, as principais mudanças estarão relacionadas a coleta de dados e a atribuição de valores aos ativos digitais.
Ao acessar a internet, fazemos o uso de diversas ferramentas: redes sociais, navegadores, Google e diversos aplicativos. Ao entrar em cada uma delas, os usuários deixam uma enxurrada de dados para trás — direto nas mãos das grandes empresas de tecnologia. Elas registram o comportamento de todos os usuários, desde as curtidas até as compras e artigos lidos. Recentes escândalos de vazamento de dados do Facebook chamaram a atenção do público para os perigos dessa enorme concentração de informações nas mãos de algumas empresas.
Com o blockchain, surgem alternativas para quem não deseja compartilhar tanta informação na rede. O Blockstack, por exemplo, é uma rede autointitulada “a internet dos aplicativos descentralizados”. Nela, os usuários utilizam identidades virtuais verificadas por blockchain. Dessa forma, as informações pessoais não precisam ser transmitidas a todos os sites ou aplicativos acessados. O usuário é quem estaria no controle de quais dados deseja compartilhar na rede.
Olhando para o futuro, podemos imaginar que a popularização da Internet das Coisas (IoT) deverá gerar ainda mais dados e informações sobre hábitos do consumidor. Mesmo sabendo que conhecer o comprador vale ouro no mundo do marketing, devemos lembrar que a privacidade digital também será cada vez mais valorizada pela audiência. Por isso, alternativas como essa podem atrair usuários que buscam compartilhar um pouco menos de suas vidas na rede.
Você se lembra de como era o mercado da música antes da internet? Era necessário ir até a loja e comprar um disco ou CD para escutar aquele hit chiclete que tocava na novela. Então, a popularização da música online com o MP3 derrubou a indústria musical como era conhecida até então.
Recentemente, a relação entre música e internet melhorou um pouco com serviços de streaming como Spotify e Apple Music. Mas, ainda assim, os artistas recebem apenas uma pequena parcela do lucro de distribuição de sua obra. O blockchain poderá mudar isso.
Com ele, artistas musicais, cineastas, fotógrafos e escritores poderão compartilhar seu trabalho em massa e receber diretamente por isso, sem precisar pagar para intermediários como o Youtube ou o Itunes. Projetos como o Po.et, Tao e Steem já estão utilizando o Blockchain para essa função.
Como ressalta o artigo publicado pela Hubspot, essas mudanças podem acontecer gradativamente, em cenários ideais. Mesmo especialistas que estudam o desenvolvimento do blockchain acordam que ainda é cedo para mapear todos os possíveis impactos dessa tecnologia.
Mas uma coisa é certa: não é cedo para se atualizar e entender que blockchain começou e já está transformando diversos setores do mercado. A medida que as pessoas compreenderem melhor e se especializarem sobre ele, grandes inovações devem aparecer por aí. Muito em breve, você poderá pensar em estratégias de venda para uma ferramenta de blockchain que ainda não foi nem inventada — e é melhor não ser pego de surpresa!
Para saber mais:
Ebook da IBM – Blockchain for dummies
TED Don Trapscott – Como o blockchain está mudando o mundo
Autora original: Cintya Ramlov