Um dos principais tópicos que nós, jornalistas, aprendemos durante a faculdade é a importância dos critérios de noticiabilidade no momento de definir o que será ou não pauta jornalística em determinado veículo de comunicação. Eles valem principalmente para as editorias Geral e Cidades, que costumam abordar temas variados e factuais em jornais e telejornais diários. Alguns dos valores-notícias que garantem a veiculação de um acontecimento são: oportunidade, proximidade, importância/impacto, consequência, interesse, conflito/polêmica, controvérsia, sensacionalismo, proeminência, novidade.
Nas seções de Economia e Empreendedorismo, isso muda um pouco. De alguma forma, os critérios de noticiabilidade continuam sendo adotados — um grande aporte recente em uma empresa da região certamente será noticiado, pela novidade, importância e proximidade. Porém, outras “pautas frias”, ou seja, não tão datadas, compõem com mais frequência tais editorias. São esses espaços que as assessorias de imprensa disputam diariamente, entendendo o perfil do veículo e montando sugestões de pautas exclusivas que façam sentido para a publicação.
Com a redução no número de jornalistas nas redações e, inclusive, de veículos de comunicação, essa disputa por espaço está mais acirrada a cada dia. Independentemente se você está buscando emplacar em um veículo nacional abrangente, publicação segmentada ou mídia regional, é necessário ter algumas estratégias para chamar atenção do produtor, editor ou chefe de reportagem, profissionais responsáveis pela definição das pautas. Eles recebem muitos e-mails diariamente, além de passarem o dia ouvindo o telefone tocar. Por isso, enviar qualquer material, sem estudo prévio do espaço, só irá prejudicar o relacionamento com esses jornalistas e fará com que eles deixem de dar atenção às suas próximas sugestões.
Já abordamos por aqui a importância de pautas conjuntas para dar visibilidade a uma empresa. Esse tipo de pauta jornalística fica muito menos comercial, com mais chances de entrar em veículos relevantes. Por outro lado, quem não quer ter um destaque maior em uma reportagem que aprofunde o seu produto e negócio? Ou mesmo numa nota em uma coluna importante, como é o caso da Mercado Aberto, da Folha de S.Paulo, e da Broadcast, do Estadão? É com isso que empresa e assessor sonham todos os dias. Porém, para se tornar realidade é necessário termos bons números e/ou histórias inspiradoras. A combinação dos dois é emplacada na certa. Vamos aos exemplos:
Neste ano, a Involves, desenvolvedora de um software para gestão de trade marketing, foi tema de uma reportagem de seis páginas na Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Eu não tenho dúvida de que uma das principais motivações do repórter ao decidir escrever sobre ela foi a história dos sócios: integrantes de duas bandas universitárias de Florianópolis (SC), que decidiram “pivotar” para a área de tecnologia e hoje faturam mais de R$ 20 milhões, com clientes como L’Oréal e Motorola. Até hoje a música é um dos principais pontos da cultura organizacional. Quem não gostaria de contar essa história?
E que tal emplacar na BBC Brasil um cliente que desenvolve projetos de circuitos integrados para serem incorporados em chips? Isso foi possível em dezembro de 2017, quando um projeto desenvolvido por essa empresa de tecnologia, a Chipus, em parceria com pesquisadores da USP São Carlos e da Universidade do Sul da Flórida, ficou parado por falta de verbas. A iniciativa é a Implantable Neural Interface (INI) — em português, Interface Neural Implantável — que implanta chips no cérebro de pessoas com algum tipo de deficiência motora, para que os dispositivos enviem sinais para as próteses instaladas na região onde existe a lesão. O diferencial é que a prótese faz uma conexão direta com o cérebro, sem o uso de qualquer tipo de fone, diferentemente do que ocorre com outros implantes existentes, como os exoesqueletos. A matéria ganhou repercussão nos principais portais nacionais, como UOL, G1, R7, Terra, entre outros.
Você tem alguma ideia de como aparecer na Forbes sem ser um dos maiores bilionários do país? O segredo é contar a sua história! Foi assim que conseguimos que o portal de uma das principais publicações de negócios do mundo dedicasse uma matéria ao vice-presidente da HostGator Brasil: o texto nada mais é do que a trajetória de Robledo Ribeiro, que trabalhou como pedreiro e encanador nos Estados Unidos e hoje é executivo da multinacional.
Bons números exclusivos são a chave para entrar na coluna Broadcast, do Estadão. Em maio deste ano, a Dígitro, que desenvolve soluções de inteligência e comunicação corporativa, foi destaque em decorrência do resultado de sua parceria com a Agemed, operadora de planos de saúde da região Sul do Brasil.
A combinação grande número + fato recente é sucesso na maioria das vezes. Prova disso é a divulgação da venda da startup Decora para uma empresa norte-americana por 100 milhões de dólares: a notícia saiu em 65 veículos relevantes. Entre eles estão os sites da Exame, Época Negócios, Folha de S.Paulo, IstoÉ, Estadão e Valor Econômico — ou seja, em praticamente todos os grandes portais de negócios do Brasil.
A partir dos cases acima, ficam alguns insights de como você, empreendedor ou gerente de marketing, pode ajudar sua assessoria de imprensa a conquistar espaço em veículos de comunicação importantes para o seu negócio:
Emplacar sua empresa e um cliente em um grande veículo traz, além de visibilidade, reconhecimento de quem conta com a sua solução. Esse foi o caso da nota publicada pelo Estadão sobre a parceria da Dígitro com a Agemed. Ao conectar sua assessoria e clientes com uma boa história e números relevantes, todos saem ganhando.
Faça pesquisas sobre sua área de atuação, colete dados de utilização do seu sistema. Isso pode virar pauta jornalística, e além de você entrar como fonte especialista, é possível que o seu produto seja citado. Números da empresa também são importantes: faturamento, clientes, crescimento, etc. Sua assessoria pode ainda aproveitar dados relacionados ao seu time de colaboradores, como quantos vieram de outras cidades, média de idade, proporção de homens e mulheres, entre outros.
Se você lançou um novo site ou mudou o design do seu aplicativo, não insista para o seu assessor divulgar isso à imprensa. São informações que interessam apenas aos seus colaboradores e clientes, então prefira focar em uma divulgação interna. Ao disparar diversos materiais para os editores sem filtrá-los, há o risco de eles começarem a ignorar todas as suas pautas, inclusive as que teriam potencial de virar notícia. Confie na expertise do seu assessor, ele também é jornalista.
Por fim, a mensagem que eu espero ter deixado é: se você é assessor de imprensa, incomode o seu cliente. Não sossegue até ter detalhes de sua história, entendendo quais passos o levaram a posição que ele ocupa hoje e curiosidades do meio do caminho. Além disso, mostre que números são importantes, são eles que podem garantir aquele espaço estratégico em grandes veículos de negócios ou segmentados que conversam diretamente com o público almejado. Já se você é o empreendedor, tente manter um contato próximo com seu assessor, para que ele te conheça e saiba quando movimentações importantes estão ocorrendo na sua empresa. E, principalmente, não tenha medo. Contar sua história e compartilhar bons números provavelmente trarão mais vantagens — como mostrar para aquele possível clientes que você existe — do que qualquer malefício.
Autora original: Marina Noceti