Uma estratégia comum nas empresas é contratar executivos ou diretores de vendas que levem a tiracolo sua carteira de clientes. A situação ilustra o perfil do chamado vendedor proprietário, aquele que é dono da conta: aonde quer que ele vá, o cliente vai atrás. O principal ativo desse profissional era – e ainda é em muitos casos – o talento para se relacionar, o empenho para manter a fama de essencial e, principalmente, a garantia de um contrato a peso de ouro.
Há bem pouco tempo, ouvi de um gestor que esse modelo já havia se esgotado em sua empresa; que novos clientes não apareciam mais, e aqueles que foram atraídos pela velha lábia do vendedor, estavam indo embora. Porque os fatores de decisão atuais mudaram dramaticamente. Os clientes? Também. E os resultados, então, nem se fala: em queda livre.
O problema é que aversão a relatórios é doença sem cura para um vendedor à moda antiga. Não tape o sol com a peneira. É grave e, pior, contagioso. Vendedor sem métricas, CRM ou qualquer tipo de controle, é carro sem freio ladeira abaixo: desastre na certa. Quer coisa mais anacrônica do que guardar para si todas as informações do cliente? Isso é página virada! E, o mais incrível, eu não estou falando de varejo. Essa é a realidade de muitas empresas de tecnologia e serviços B2B. Não se iluda. Apesar desse modelo poder até trazer algum resultado, não é sustentável!
Pra começar, o básico. Se hoje o cliente está bem informado, o vendedor tem que estar ultrainformado. Informação virou a principal matéria-prima dele. Estamos em um momento de transição cultural e de mentalidade mesmo. Foi o cliente quem desafiou a área de vendas a evoluir. E isso não tem volta. De dono da conta e tomador de pedido, o vendedor passou a provedor de soluções. É um salto olímpico! Até o nome da função “vendedor” mudou e hoje encontramos diferentes sinônimos mais sofisticados, mas que no fundo dizem a mesma coisa. E requer uma abordagem totalmente nova para identificar, atrair e engajar. Antes, era só mapear e sair pra venda. Bons tempos, dirão alguns menos afeitos a desafios.
Resumindo, o vendedor virou gestor de um processo complexo de vendas. O seu trabalho não se esgota com a venda em si. Ele tem que arregaçar as mangas e ajudar a construir todo o caminho de compra – e mantê-lo bem asfaltado e sinalizado. A famosa jornada de compras. De preferência em sintonia com o Marketing, no caso das raras empresas de tecnologia que possuem essa área estruturada.
Ele se apoia no Inbound para conseguir se conectar com cada lead de forma personalizada e adequada, levando em conta sua jornada e necessidade de conteúdo para decidir. Estudo da Demand Gen Report mostra que um comprador 2.0 requer em média, mais de 8 contatos para fechar um negócio e o Inbound pode ajudar muito nessa jornada de compra. Por isso, ele utiliza as métricas e dados obtidos para obter insights e conhecer melhor seus leads, direcionando de forma mais assertiva suas ações, desde um telefonema ou um email.
Ele entende de métricas, sabe medir ROI, domina conceitos importantes do Inbound, mas usa tudo isso para completar seu perfil comercial. Sabe falar a linguagem do cliente, tem abordagens interessantes e inteligentes, faz ótimas apresentações e tem insights que encantam seus ouvintes. Consegue transmitir entusiasmo e credibilidade, mas embasado por competências pessoais e dados concretos.
O distanciamento entre marketing e vendas é coisa do passado para esse vendedor moderno. Ele sabe que tão importante quando obter apoio do marketing é fornecer informações, dividir o que ele sabe e sente sobre o mercado e sobre cada lead ou cliente. Juntos eles conseguem planejar e implantar ações mais assertivas, e quando todos participam da construção de algo, é muito maior o engajamento naquele projeto. Todos ganham, a empresa, o vendedor e o cliente.
Capacitar esse novo modelo de força de vendas é primordial. Ele precisa saber reportar baseado em métricas claras; ter ciência da saúde e da evolução das vendas, comprovar ROI, etc., etc. Isso dá um trabalho danado, demanda tempo, em alguns casos até burocratiza. Mas funciona que é uma beleza.
Crédito de imagem: jarmoluk/CC
Autor original: Luiz Marca